Desde que me entendo por gente, sou assim. Basta o tempo mudar lá fora, corro pra dentro de mim. Tenho casa com varanda, janelas amplas, quartos aconchegantes, sala de estar e biblioteca… tudo aqui dentro. É o meu refúgio particular, onde me resguardo de temporal ou ventania. De vez em quando, me lembro de que preciso sair um pouco, abrir a porta para fora de mim mesma.
Cresci como única criança em casa, sem precisar dividir meu espaço, tendo que inventar minhas próprias brincadeiras, usando muito a imaginação. Mas não é só isso. Deve ter algo da minha própria configuração. Gosto muito daquela expressão que usamos por aqui - não sei se pelo Brasil afora também se ouve - que diz “fulano é muito na dele”. Pois é. Eu sou muito “na minha”. Sair de mim às vezes dá trabalho.
Mas é também essa qualidade que me faz uma pessoa que escreve, que observa o mundo ao redor e pensa bastante sobre o que vê. Escrever é o meu jeito de estar no mundo, de externar o que penso e sinto, de dar sentido, de digerir o que ruminei.
Apesar da minha boa vontade ao me relacionar e conhecer gente, não sou a melhor pessoa da conversa com quem não tenho intimidade, não faço amigos na fila do mercado, não sei engatar assuntos do nada. Mas sei transformar a vida em palavras.
Fiquei pensando em tudo isso desde que li a edição mais recente de Tristezas de Estimação da
. Ela fala de como a vida é o fermento das ideias criativas e também sobre o poder de manter esse lugar interno para onde corremos de vez em quando - e isso me chamou a atenção. Sempre tive esse espaço interior tão meu e não tinha me dado conta da importância disso.O texto ressoou com outras duas news que eu havia lido um pouco antes, a da
e a da . A segunda, inclusive, foi inspirada na primeira, que falou tão bem sobre enxergarmos beleza em pequenos achados do dia a dia, apesar da dureza do mundo.Em tempos turbulentos, entendi a importância de preservarmos em nós esse cantinho só nosso - onde encontramos poesia e força criativa. Porque, sim, viver a vida lá fora é necessário, mas só isso não basta. É preciso viver dentro também. Mesmo em sociedade, sabendo que tudo que acontece por aí nos afeta de alguma forma, é urgente resguardar esse lugar de aconchego aonde ninguém mais chega.
É como manter uma redoma blindada, um campo de força, ao qual só nós temos acesso e onde podemos nos nutrir de nós mesmos. O mundo aí fora pode estar desmoronando, mas a gente não precisa ir junto. Manter o próprio ambiente interno limpo, fresco e agradável, para ter onde se abrigar das intempéries, é também resistência.
Faça chuva ou faça Sol, dentro de mim a casa está sempre aberta.
Por hoje, é isso. Muito obrigada por me acompanhar nesta trilha de palavras… se quiser me contar o que achou do texto, vou adorar saber. É só deixar o seu comentário aqui:
Até a próxima!
Luisa Sá Lasserre
Do jeito que talvez dissesse Manoel de Barros, a casa leva o sonho do caramujo nos ombros... :)
Ler seu texto me fez refletir o quanto sou assim e as vezes quero entrar dentro de mim mesmo e não sair.
Esperar a poesia gritar e deixar a poeira assentar lá fora na bagunça que é esse mundo.
É muito bom saber que existem pessoas assim que sentam dentro de si mesmos e buscam se conectar com seus sentimentos e emoções.
Fantástico seu texto.
PS. Vou ler os outros.
Um abraço.