Eu sou a mulher dos rótulos. Não, não aqueles que engessam características em pessoas e situações. Prefiro fugir desses. Falo dos que estão estampados nas embalagens de alimentos e produtos de higiene e beleza. Quem disse que eu só curto ficção, crônicas e poesia? Sou uma leitora voraz desses pequenos tratados nada literários.
Sério, não consigo comprar algo sem antes dar aquela espiadinha no que diz o rótulo - os ingredientes, principalmente. Não entendo como alguém consegue ir ao mercado e sair adicionando itens e mais itens ao carrinho sem observar atentamente o que contém cada um deles. Minha mãe é exatamente assim, o meu oposto. Não foram poucas as vezes em que ela comprou iogurte de frutas vermelhas pensando que era de morango, leite desnatado achando que fosse integral, sem falar nos transgênicos que ela jamais notou.
Outro dia fui eu que revelei que aquele símbolo do T estampado em um pacote de pão de queijo significava justamente um produto transgênico — quem faz isso com um pão de queijo, Meu Deus?! Talvez ela achasse que era só uma letrinha bonitinha que fazia parte do design do produto. A maioria das pessoas nem percebe a existência. Como pode? Eu saio rodando a embalagem na mão pra ver se tem um Tzinho escondido por ali em algum lugar. Sempre desconfio.
Perscruto a lista de ingredientes com o afinco de quem procura uma agulha caída no chão. Observo os nomes e a ordem deles. Quanto mais desconhecidos e difíceis de pronunciar, maior o problema. Se o açúcar vem logo no início da lista, sinal de que está em maior quantidade. O alerta vermelho é logo acionado.
Com os produtos que uso na pele e nos cabelos, é a mesma coisa. Não sou a radical de só usar babosa, chá verde e ervas do jardim, mas faço as minhas escolhas. Busco ingredientes mais limpos, evito parabenos, derivados de petróleo, alumínio. Leio os rótulos do xampu e do condicionador, mesmo que não entenda tudo. Aprendi a ter alguma noção, me interessando e estudando pra entender.
Eu acho que é uma das atividades mais importantes da vida. Devia ser ensinada na escola. Quem quer saber de equação de segundo grau, nomes dos ossos do ouvido, formação das rochas? Mais importante do que ler literatura de bandeiras que existem por aí é ler rótulos. Melhor do que discurso conceitual é saber discernir o que você deve ou não consumir no seu dia a dia. O que faz bem e o que não faz.
Ler clássicos? Necessário. Ler os modernistas? Excelente. Ler realismo fantástico? Incrível. Mas, por favor, vá ler os rótulos do que você anda consumindo também.
Obrigada por me acompanhar nesta Trilha de hoje! Agora, me conta, você também costuma ler rótulos ou faz parte do time dos que nem se dão conta de que isso existe nas embalagens dos produtos? Fala a verdade! Rs
Abraços literários de quem perde minutos a mais no mercado só lendo aquelas letrinhas pequenas…
Luisa Sá Lasserre
Oi, Luisa!
Também acho que precisava ser ensinado na escola.
Para rótulos de produtos alimentícios gosto muito dos conteúdos da Sari Fontana. Aqui no Substack ela escreve o Descobertas.