Tempo livre… tempo para um café, para ler um livro, para assistir a um filme ou mais um episódio da série do momento. Tempo de não fazer nada ou, simplesmente, colocar a leitura das newsletters em dia. Tempo para jogar conversa fora, em um encontro com amigos ou só trocando mensagens freneticamente naquele grupo de amigas mais próximas. Tempo de dar risada e esquecer dos boletos. Tempo para passear, namorar, conhecer um museu, apreciar o mar. Tempo também de ir à academia ouvindo mais um podcast. Ou de correr na rua ouvindo o barulho dos carros e o canto dos pássaros. Tempo livre é um tempo todo seu. Para qualquer coisa, para quase tudo ou apenas nada. Escolha o seu tempo.
Vamos às indicações do que andei lendo, vendo e ouvindo no mês de outubro?
Tá todo mundo tentando: histórias para ler na cidade [Gaía Passarelli]
Uma seleção de crônicas que retratam a vida na cidade grande, nos tempos atuais, com alguns passeios também por outras paisagens e épocas. Tá todo mundo tentando é o nome da newsletter da Gaía Passarelli que emprestou o mesmo título ao livro. Uma excelente forma de eternizar os textos publicados aqui no Substack e chegar a mais leitores. E os textos, claro, são bem escritos e gostosos de ler. O livro tá dividido em três partes: a primeira, a seleção dos melhores ‘tá todo mundo tentando alguma coisa’, a segunda, escritos de viagens que Gaía fez em anos passados (minha parte preferida), a terceira, histórias paulistanas vividas nas ruas e nos bairros da grande capital (uma ótima forma de conhecer mais a cidade pelas lentes de quem vive lá). A edição está linda, fiquei encantada pelo projeto gráfico da editora Nacional, com as ilustrações do Tiago Lacerda dando ainda mais molho ao trabalho.
Kim Jiyoung, nascida em 1982 [Cho Nam-Joo]
Kim Jiyoung é mais uma mulher sul-coreana comum, como tantas outras, que largou o emprego para cuidar da filha pequena. Exausta da rotina que leva como dona de casa e mãe, ela começa a apresentar estranhos sintomas, ao dar voz a falas de outras mulheres, como se fosse outra ali no corpo dela. O marido então a leva ao psicólogo, e, a partir daí, conhecemos toda a história familiar e de vida da protagonista, da infância à maternidade. O livro é da autora sul-coreana Cho Nam-Joo, e acabou se tornando um fenômeno de vendas por tratar de desigualdades e preconceitos sofridos por mulheres coreanas, mas com os quais mulheres de todo o mundo são capazes de se identificar. Confesso que não achei a narrativa das melhores, sinto que falta alguma coisa, mas o livro consegue retratar um tanto de situações e sentimentos complexos vivenciados pelas mulheres nos dias de hoje, principalmente em questões ligadas a carreira profissional e maternidade. Daí explica-se o sucesso.
O casal perfeito
Uma daquelas séries de crime e suspense, com personagens ricos cercados de podres por todos os lados. A premissa é a seguinte: uma família está reunida na praia para o casamento de um dos filhos, quando uma morte acontece e coloca todos como suspeitos. Para quem gosta do estilo e está a fim de entretenimento, é uma boa pedida. Baseada no romance homônimo de 2018, de Elin Hilderbrand, a série O casal perfeito bebe na fonte de Agatha Christie (sem querer equiparar o nível de qualidade, por favor), mas com uma roupagem nova e atual. E ainda tem a Nicole Kidman em um dos papéis principais.
Ninguém quer
Esta série já andou levantando burburinhos empolgados por aí. Eu, que estava mesmo a fim de algo leve com episódios curtos (uma das vantagens da produção), fui conferir. A graça está no casal protagonista, que é cativante e improvável, uma apresentadora de podcast feminino sobre relacionamentos e um rabino pouco convencional, que se depara com o desafio de namorar uma não judia. Os atores, Kristen Bell e Adam Brody, são ótimos - ele principalmente. Criados por Erin Foster, que se inspirou em histórias vividas por ela mesma para compor Ninguém quer, os dez episódios de menos de meia-hora trazem a tônica dos relacionamentos atuais, dos mais superficiais aos que prometem durar, mas têm de enfrentar as pressões externas e o ajuste de visão de mundo de ambos os lados. Além de tudo, conhecemos um pouco da cultura judaica, o que ajuda no diferencial. A série é romântica, engraçada, moderninha, com uma edição ágil e… besta, claro. Talvez, por isso mesmo, diverte. A segunda temporada já está prometida.
Desencanto [David Lean]
Desencanto é um filme de 1945, em preto e branco, e narra um encontro casual que acaba se tornando um amor proibido. Uma narrativa sensível e delicada que toca no drama dos sentimentos humanos amorosos mais complexos. Para quem quiser saber mais, vale ler a resenha das Andanças da Luisa Manske, que foi de onde eu peguei a indicação. Adianto que é uma boa pedida para quem gosta de filmes antigos de romance.
Amores solitários [Susannah Grant]
Romance e viagem é uma boa mistura que costuma encantar espectadores. Ainda mais se a trama se passa entre belos cenários do Marrocos, com personagens charmosos. O filme em si pode ser só mais uma história legal e nada de mais, que agrada naquele fim de tarde no sofá… mas a Netflix sabe como fazer uma produção de qualidade. No enredo, um retiro para escritores também ganha pontos com quem é dessa turma. Interessante notar a representação dos personagens, a jovem escritora que acaba de lançar um best-seller de verão, a veterana ganhadora de um Nobel sem papas na língua, o escritor de autoficção com uma biografia forte… e a escritora renomada que só quer paz pra terminar seu romance. Quanto ao galã, meio deslocado naquele universo de autores, fiquei com a impressão de ser “gente boa” demais, o que o torna mais raso. Vale a pipoca.
Meia-noite em Paris [Woody Allen]
Para mim, este é um dos filmes mais encantadores de Woody Allen… as paisagens parisienses, a atmosfera cultural, as referências artísticas, além do debate sobre o tempo e as nossas insatisfações. Eu já tinha assistido a Meia-noite em Paris no cinema e resolvi rever esses dias para constatar que, sim, continuo achando muito bom! O enredo traz um roteirista de Hollywood que quer se firmar como escritor (os temas e tipos se repetem), interpretado por um Owen Wilson que lembra muito o próprio Woody Allen (os caras mal resolvidos são sempre ele mesmo). Gil Pender viaja com a noiva e os sogros a Paris, onde tem desejo de morar por acreditar ser a cidade que lhe traz maior inspiração artística. Em uma de suas andanças noturnas, acaba sendo transportado ao passado, para a década de 20, que ele considera ser “a idade de ouro” francesa. Ali conhece os escritores Zelda e Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrud Stein, os pintores Pablo Picasso e Salvador Dalí, o cantor Cole Porter e outros artistas. Gil fica dividido entre o presente, onde não está satisfeito com a própria vida, e o passado que ele venera. É lá que ele conhece a bela Adriana, com quem acaba se envolvendo; mas ela também deseja voltar ao passado, pois prefere a Belle Époque como verdadeira “golden age”. Detalhe: lá, há quem considere outra a idade de ouro, a renascença. Ou seja, o filme traz um debate interessante sobre essa constante insatisfação com o momento atual em que vivemos, por achar sempre melhor um outro tempo que já passou. Me trouxe bons insights!
Você sofre de amnésia digital? [Desenrola]
Um assunto bem atual e eu aposto que quase todo mundo tem sentido um pouco dessa tal amnésia digital. A gente se apoia tanto na tecnologia na palma da mão que acaba esquecendo de coisas bobas o tempo todo. Não sei aí, mas aqui, pelo menos, acontece bastante. Vale ouvir este episódio do Desenrola para entender mais.
Tá todo mundo tentando: newsletters e outras leituras da cidade [Rabiscos]
E como eu trouxe o livro da Gaía Passareli, trago também este episódio do podcast literário Rabiscos, em que ela participou para falar de algo que conhece bem, o formato newsletter, além do livro e da escrita de modo geral. Eu, que adoro o assunto, recomendo!
Fico por aqui… e, quem sabe, você vai conferir algumas das dicas de hoje! Obrigada por me acompanhar nesta Trilha Cultural. Nos vemos em breve, na próxima edição. Mas, antes de partir, que tal me contar das suas impressões e o que anda lendo, assistindo ou ouvindo de interessante? Você pode responder a este e-mail ou comentar direto na plataforma, pelo botão abaixo.
Abraços culturais,
Luisa Sá Lasserre