Não sei aí onde você mora, mas aqui, neste cantinho do mundo que atende pelo nome de Salvador-Bahia (cidade mais festeira impossível), o carnaval já está rolando desde o fim de semana passado. E eu, adivinhem, não curto nem um pouco, mas fui nascer logo aqui. Eu sei que vendem uma imagem de que tudo é lindo, mas a real é que, pra quem mora aqui e não curte a festança, a cidade fica mais cheia, suja, insegura e bastante agitada, mesmo para quem está mais distante do circuito.
A vontade é de ter uma poltrona particular à beira mar para ficar de boa. Tudo o que quero é me manter no meu aconchego familiar e entre amigos e aproveitar os dias que tenho do feriadão pra fazer essas coisas de que gosto - ler e assistir a filmes ou séries, além de manter meus treinos em dia. Se der, dar um mergulho no mar. Sou mesmo uma pessoa previsível, fazer o quê.
Portanto, carnaval, que nada! O maior evento pelo qual estou esperando é, no máximo, a vitória da Fernanda Torres e Ainda estou aqui no Oscar. E, olha, vou dizer, se Emília Pérez desbancar o nosso favorito, é porque esse Oscar é mesmo muito vendido e não vale um centavo - as críticas estão aí para provar.
Fora isso, estou me preparando para começar a assistir a recém-lançada segunda temporada da série Ruptura (Apple TV) que eu amo e ainda não pude conferir. Pretendo terminar leituras e começar as próximas; Ainda estou aqui ainda está aqui na minha biblioteca do Kindle aguardando ser lido!
Se você vai ficar em casa nesses dias, aproveita para pegar alguma das minhas indicações do que andei lendo e assistindo no mês de fevereiro. Vem ver!
O que resta de nós [Virginie Grimaldi]
Peguei a dica desse livro em uma postagem da Martha Medeiros. Confesso que o fato de ter sido escrito pela autora mais lida da França - tipo a versão francesa da nossa Carla Madeira - foi o que mais me atraiu. O que resta de nós tem uma narrativa leve, apesar de tocar em temas mais áridos, como o luto e a violência. Cada capítulo alterna entre as histórias e as vozes de três personagens: Jeanne, uma senhora idosa que acaba de perder seu grande amor, Théo, um jovem com uma vida difícil, e Iris, uma mulher com um passado nebuloso e um presente incerto. A leitura nos convida a perceber a delicadeza dos encontros cujas linhas invisíveis tecem a vida nossa de cada dia.
Cidades afundam em dias normais [Aline Valek]
Uma cidade que afundou e sumiu do mapa, de repente, emerge, trazendo de volta as antigas histórias daquele povoado e de seus moradores. A fotógrafa Kênia chega, junto com o jornalista Facundo, para contar essa história, enquanto ela mesma, que cresceu ali na pequena Alto do Oeste, se reencontra com o passado. Livro de escritora brasileira contemporânea - que também escreve Uma palavra aqui no Substack -, Cidades afundam em dias normais (Rocco, 2020) é o segundo romance de Aline Valek e me chamou a atenção pela ótima escrita e construção literária.
Sing Sing [Greg Kwedar]
Um dos concorrentes ao Oscar, nas categorias de melhor ator (para Colman Domingo, que está mesmo muito bom), melhor canção (ótima também) e roteiro adaptado (a partir de um artigo da revista Esquire), Sing Sing não tem ganhado tantos holofotes quanto outros companheiros de indicação, mas bem que deveria. Eu mesma tinha ouvido falar pouco dele, quando li esta edição da newsletter da Sandra Acosta indicando. E, como eu estava justamente escolhendo o que assistir no cinema, fiz logo a minha escolha. O filme narra a história de detentos que se reúnem em um grupo de teatro, onde eles criam, produzem e encenam peças em uma prisão de segurança máxima. Trata-se do programa Rehabilitation Through the Arts (reabilitação pelas artes), que existe de verdade nos Estados Unidos e inspirou o diretor Greg Kwedar. Uma das melhores surpresas com Sing Sing (não é bem um spoiler porque isso está sendo divulgado nas notícias do longa) foi descobrir que boa parte do elenco é de ex-presidiários integrantes do grupo de teatro, que interpretaram a eles mesmos. Um detalhe valioso: o índice de reincidência criminal no programa é de menos de 5%, quando a média nos EUA é de 60%. Enfim, um filme que aborda o poder da arte para a transformação pessoal e social. Uma dessas boas histórias reais que, de vez em quando, a gente se depara por aí e que vale mesmo a pena contar!
Todo o tempo que temos [John Crowley]
Com uma narrativa fragmentada, que vai e volta entre passado e presente, Todo o tempo que temos conta a história do casal Almut (Florence Pugh) e Tobias (Andrew Garfield) através dos anos de relacionamento, desde o acontecimento inusitado que os une até o ponto crucial que está prestes a mudar a vida deles. Um romance sensível e bonito, sem ser piegas, com personagens cativantes e menos óbvios. Apesar de ser um drama, é também uma história contada com leveza, que deixa aquele sabor agridoce no final, como a vida.
Cem anos de solidão [Laura Mora e Alex García López]
Sim, ela mesma, a série mais comentada da Netflix no final do ano. Demorei um pouquinho pra começar a assistir e mais um pouquinho assistindo cada um dos oito episódios. Eu amo o livro de Gabriel García Márquez, então, não podia deixar de conferir. E, sim, eu gostei do que vi. Mergulhar nesse universo mágico de Cem anos de solidão, desta vez dando rosto a cada personagem, passeando o olhar pelas ruas de Macondo e pela casa de Úrsula e José Arcádio, foi uma deliciosa viagem. Claro que é uma adaptação das mais de 400 páginas do livro para outra linguagem, e é assim que a série deve ser assistida; não dá pra exigir a mesma coisa. Mas eu gostei bastante do cenário, das interpretações dos personagens, dos recursos visuais para apresentar as construções literárias. Valeu principalmente por acender minha memória afetiva com o livro que marcou minha jornada de leitora!
O fio da meada [Samy Bersi]
Esta newsletter é uma descoberta recente na qual tenho encontrado bons conteúdos que envolvem escrita, vida criativa e algumas reflexões. Esta edição, em específico, compartilha as percepções da Samy sobre O diário de Anne Frank. Bem legal.
Andrea me conta [Andrea Nunes]
A Andrea é uma ótima cronista da vida cotidiana e eu adoro ler a news dela, sempre inteligente e bem humorada. Esta edição está especialmente recheada de ironia para brincar com a alta performance das manhãs que toda mãe conhece bem!
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No mais, nos vemos na próxima edição!
Abraços culturais,
Luisa Sá Lasserre
Assisti Sing Sing sem saber nada e nossa, eu amei ❤️