Rapaz e mocinha se encontram, se apaixonam, precisam vencer obstáculos pra ficar juntos. Quantas vezes você já viu, ouviu e leu essa fórmula por aí? Parece bem desgastada, mas não é que continua fazendo sucesso?! É que não importa muito a história de onde se parte para construir a narrativa. Importa a trilha que se percorre.
No filme a que assisti no fim de semana, o caso é parecido. A história tem rapaz e mocinha que se encontram e se encantam, mas é um pouquinho diferente dos romances que vemos por aí. Fazia tempo que eu não saía do cinema tão tocada. Horas depois de concluída a sessão, ainda me pegava repassando as cenas na cabeça, lembrando de uma coisa aqui e outra acolá.
Indicado ao Oscar de melhor filme e melhor roteiro original, “Vidas Passadas” é a estreia da cineasta sul-coreana-canadense Celine Song, que reside nos Estados Unidos. O enredo é quase autobiográfico e, quem sabe por isso mesmo, passa tanta verdade, ainda que não tenha nada de mais.
Na tela, vemos dois jovens sul-coreanos que vivem a promessa do primeiro amor e, anos depois, se deparam com os rumos que a vida tomou. O destino imaginado versus aquele que se tornou real, palpável. Mais perguntas do que respostas. Personagens cativantes e bem construídos, gente como a gente. E o que se destaca mesmo é a forma como tudo é narrado.
É que, veja bem, o que faz a história melhor não é a história em si, mas a forma como se conta.
No filme, nada é tão explícito; gestos e tensões contidos nos deixam apenas entrever o que se passa por dentro, e, com isso, diz muito mais. Cada enquadramento, cada composição de cena, a trilha sensível, tudo aqui é cinema. Aí está um dos grandes trunfos da arte genuína, o que só me faz constatar que quem precisa explicar muito, mostrar muito, já perdeu a mão.
Assistir a “Vidas Passadas” após uma sequência de traileres do cinema comercial brasileiro tornou ainda mais gritante a diferenciação desta obra. Enquanto tantas fitas nacionais optam por um enredo besteirol protagonizado por personagens rasos em cenas apelativas, o premiado longa de Celine Song confirma que o bom cinema não precisa de nada disso pra se destacar e ganhar o público. Enquanto os outros gritam, ele baixa os olhos e cala. Diz sem precisar dizer.
Isso me faz lembrar também dos livros. Me incomoda quando encontro na literatura contemporânea um tom muito mais panfletário do que literário para tratar de temas da agenda atual, como quem precisa levantar bandeiras. Uma coisa é o assunto que emerge à serviço da narrativa, outra é a narrativa que se submete aos debates temáticos. Nem toda história é literatura.
Aí entra também o apelo das cenas sexuais espalhadas por livros e filmes, que me parece mais uma tentativa fácil de fisgar o leitor/espectador do que, de fato, servir à literatura ou ao cinema. Muitas vezes, é só dispersão. “Vidas Passadas”, sem qualquer tipo de apelo, revela muito mais intimidade entre os personagens sem que precisem, sequer, se tocar.
É uma questão de dizer mais com menos. Serve para o texto escrito, assim como para o cinema. E também pra vida. Para se expressar melhor, a gente não precisa de mais palavras. Às vezes, é só uma questão de construir a imagem certa, saber contar uma boa história, para tocar o sentimento.
Obrigada por ler até aqui e me acompanhar nesta Trilha de hoje. Que tal deixar um comentário me contando o que achou, se assistiu ao filme ou o que pensa desse papo? Vou adorar saber!
Até a próxima Trilha!
Luisa Sá Lasserre
Oi Lu! Adorei as reflexões sobre Vidas Passadas, curiosamente, também pensei em falar sobre ele :)
Agora te acompanho de perto por aqui, vamos trocar nossas figurinhas nesse meio e vamos nos atualizando. um beijo!
Quero ver!!! Onde?