É fácil sonhar com números altos, na rede social, na cartela de clientes, nos títulos conquistados, na conta bancária principalmente. É fácil sonhar com auditório cheio, aplausos, autógrafos. É fácil sonhar com o sucesso, o reconhecimento, os elogios. É fácil sonhar com uma vida que deu tão certo que lhe levou ao topo!
Será mesmo? Topo de quê? E se você chegasse lá, seria mesmo essa a vida que queria? Eu sei que às vezes a gente entra numa corrida para chegar mais longe, subir mais alto, ganhar mais, provar que consegue. Talvez você também já tenha ouvido histórias de quem chegou lá e encontrou um grande vazio onde pensou que estaria preenchido. Afinal, desde quando sucesso na carreira quer mesmo dizer uma vida bem sucedida?
Esses dias voltei a pensar nessa ideia que há tempos já ocupa um galpão no meu cérebro. Terminei de ler (e amei) o romance científico Matéria Escura, de Blake Crouch, que virou série na Apple TV, e vislumbrei a riqueza que é uma vida comum. Uma vida sem arroubos nem alarde. Como no enredo do livro, marido, mulher e filho dentro de casa, em mais uma noite corriqueira em família. Isso lhe parece pouco?
Para o protagonista Jason, é muito. E ele, que se depara com as diversas escolhas que poderia ter feito, ou fez, na vida, passa o livro quase todo tentando voltar pra lá… para a segurança do seu próprio lar. Lugar onde ele é apenas um professor de física, casado com a mulher que ama e pai de um adolescente. Precisa mais?
Quantas vezes olhamos a outra esquina sem ver a própria casa? Enquanto na vitrine do Instagram tem um monte de gente exibindo grandes feitos, acumulando metas batidas, viajando adoidado, festejando mais um prêmio, indo ali dar um pulo na Costa Amalfitana ou aonde quer que seja… pode ser você quem esteja vivenciando a mais incrível experiência agora mesmo, ao redor do seu sofá. No conforto afetivo do seu lar, que pode não ser espetacular, mas é seu.
Sinto que, no fundo, as experiências que contam não são de ordem profissional (mesmo sendo também importantes) ou social, mas de caráter pessoal, no sentido daquilo que nos leva ao crescimento como pessoa. São nas conexões humanas, nos desafios vencidos, nas arestas aparadas, nas melhorias internas, que a gente cresce de verdade.
Viver uma vida comum é privilégio. Uma vida pautada em trabalhar por algo bom, cuidar de si mesmo e de quem tá do lado, aproveitar bem cada momento, se desenvolver pra ser uma pessoa melhor - tarefa esta que não é nada fácil. Uma vida com menos números e títulos talvez, mas com mais amor e paz de espírito, quem sabe. Menos sonhada, mais vivida.
Pode ser fácil sonhar com o sucesso que almejo conquistar, mas melhor ainda é acordar todo dia pra viver a vida de hoje. Comum, mas tão minha.
Obrigada por me acompanhar nesta Trilha de hoje!
O que você achou do texto? Também acredita no privilégio de uma vida comum? Me conta aqui, vou adorar saber!
Nos vemos em breve. Até a próxima!
Abraços literários,
Luisa Sá Lasserre
Perfeito!