
O que molda um gosto literário? O que me faz gostar deste e não daquele livro? A minha natureza interior, a minha personalidade, aquilo em que acredito, minha visão de mundo, meu jeito de olhar a vida? Muitas coisas podem entrar nesse caldeirão, desde a minha história, o meu repertório cultural, influências de amigos e também da internet, das redes sociais.
O que faz a gente gostar de um livro, acredito, tem muito a ver com identificação. É a gente se ver na história, nas personagens, nas palavras, naquele modo de narrar a vida. A nossa vida não deixa de ser também uma narrativa. Aquele livro do qual a gente gosta é como um espelho em que nos vemos ou enxergamos alguma coisa do mundo ao qual pertencemos. Quando as palavras ressoam aqui é porque algo em mim me faz reconhecer um pedaço meu naquilo que leio.
Ontem foi o dia mundial do livro, e eu parei pra resgatar um pouco das leituras que me marcaram — aquelas que algum dia já carregaram pedaços meus em suas frases. Tentei até definir os meus favoritos, mas achei uma tarefa bem difícil selecionar apenas um número pequeno deles. Para esta edição, escolhi uma seleção mais modesta e listei cinco que, de alguma forma, forjaram meu gosto literário na juventude e me abriram portas para a literatura.
Vamos a eles:
Cem anos de solidão | Gabriel García Márquez
Até hoje, Cem anos de solidão segue sendo um dos meus livros preferidos da vida. Não dá pra dizer que é a principal razão do meu amor pela literatura, mas certamente ter lido esta obra magistral de realismo mágico contribuiu para moldar o meu gosto literário e reforçar o lugar dos livros na minha vida. Por mais que todo mundo fale dele, pra mim, jamais será um clichê.
Alta fidelidade | Nick Hornby
Este livro representa toda uma geração, mas também uma época da minha vida, fazendo faculdade, estagiando, assistindo a muitos filmes, expandindo meu repertório cultural em plena juventude. Apesar de ter sido publicado em 1995, só fui ler no início dos anos 2000, quando já tinha até filme adaptado fazendo sucesso. Fã de rock e cultura pop, Nick Hornby usa isso em sua literatura, o que gera muita identificação nos leitores. Gostei tanto da leitura naquela época que fui ler mais títulos do autor e usei este como base para a minha monografia na graduação de jornalismo. Não sei se hoje eu curtiria da mesma forma, mas ele ocupa um cantinho afetivo aqui na minha estante interior.
Laços de família | Clarice Lispector
Os contos de Clarice conseguem ser profundos com simplicidade. Em comum, todos eles exploram o mundo psíquico dos personagens de maneiras que não são óbvias e a partir de instantes corriqueiros da vida. Pra mim, foi como uma descoberta, marcou um encontro com as questões mais existenciais para as quais eu começava a despertar. Para quem ainda tem um pouco de receio da autora, é uma boa pedida pra começar; a narrativa flui com mais leveza, diferente de outras obras dela, mais densas e menos lineares.
Feliz ano novo | Rubem Fonseca
A narrativa ágil, o humor ácido, a linguagem afiada e as cenas contundentes me ganharam naquela idade em que a gente quer sentir as veias pulsando. O tipo de livro recheado de críticas sociais e feito pra meter o dedo na ferida. Confesso que hoje essas histórias já não fazem tanto o meu estilo de leitura, mas Rubem Fonseca foi um dos autores brasileiros que eu gostava de ler e me abriu portas para o mundo literário. De Feliz ano novo, eu curtia especialmente “Passeio noturno”, um dos contos mais cruéis… pois é.
Esconderijos do tempo | Mario Quintana
A poesia sempre teve um lugar nas minhas leituras também. Eu carregava este livro do Mario Quintana pra ler na faculdade, em casa, na rua… e reli várias vezes. Cheguei a usá-lo também em um trabalho numa disciplina de teoria lírica, que cursei avulsa no mestrado de letras, como aluna especial. Esconderijos do tempo é repleto de pérolas poéticas e até hoje me encanta por sua simplicidade e tamanha beleza. Vale cada poema.
Voltar a esses livros é relembrar minha própria história e reavivar um pouco mais da minha relação com a literatura. E os seus quais são? Quais livros marcaram suas incursões juvenis no universo literário? Me conta que eu vou adorar saber!
Nos vemos na próxima edição, certo?
Abraços literários,
Luisa Sá Lasserre
Que bom que gostou da entrevista! Adélia é uma mulher inspiradora!!! Com relação aos 42 anos, que os bons presságios venham cada vez mais, tudo de bom querida!!
Que belo texto - leve, mas profundo.
Pensemos...