A Festa Literária Internacional de Paraty começa nesta quarta-feira. Há anos observo com olhos compridos e penso que um dia irei. Agora tenho até um livro pra chamar de meu e levar a passeio, divulgar por aí. A Patuá, editora que me publicou, vai estar lá dando um teto para os seus autores. Ainda não será desta vez, mas acho que seria uma boa oportunidade. Ainda mais este ano em que o homenageado da festa é um cronista, João do Rio.
Nascido João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, jornalista de profissão, ele escreveu sobre os personagens e as paisagens do Rio de Janeiro que fervilhava em transformações no início do século 20. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1910, sendo o primeiro imortal a vestir o fardão.
João do Rio era um caminhante e astuta testemunha dos movimentos e acontecimentos das ruas. Em seus textos, estavam presentes o registro dos comportamentos humanos, as novidades da época na cidade maravilhosa e a crítica social. Fico feliz de ver esse gênero tão nosso, tão permanente e atual, ganhando destaque num evento desse porte. Um excelente gancho para quem também, como eu, se serve da crônica para dar vida às próprias experiências e observações cotidianas.
A crônica tem justamente esse papel de registrar o próprio tempo - como o nome, em referência a chronos, já diz. E o mágico é que, mesmo depois de muitos anos, ela ainda é capaz de representar o presente, de suscitar reflexões, debates, novos olhares para as coisas de antes ou de agora. Está aí, para provar, o vasto acervo de crônicas de diversos (e grandes) autores brasileiros que temos à disposição em nossa literatura.
E como tudo está em movimento e se atualiza com o tempo, a crônica tem ganhado cara nova com as publicações das newsletters. Eis um tema que, este ano, vai ganhar destaque na programação paralela da Flip com algumas mesas para debater essa nova produção quentinha, que tem saído do forno principalmente aqui no Substack. Estarão por lá algumas conhecidas daqui, como a Gaía Passarelli, Ana Rüsche e Bárbara Bom Angelo. Queria muito acompanhar tudo isso de perto.
Aliás, quem já esteve na Flip garante que é um ótimo espaço para criar conexões, conhecer gente do mercado editorial e do fazer literário. Eu, como boa introvertida que sou, fico pensando se conseguiria mesmo achar meu lugar entre tantos movimentos e pessoas, se seria capaz de estabelecer novas relações em meio à multidão. Ou será que me sentiria deslocada, atordoada entre tantas gentes e programações diferentes?
Tal qual João do Rio, eu poderia simplesmente sair flanando pelas ruas de paralelepípedo de Paraty, demorando os olhos em cima das mesas literárias ou dos bares e restaurantes onde o povo se encontra, vigiando os gestos, os jeitos, as posturas e as falas, extraindo narrativa das frestas dos instantes. Depois, verteria todo esse caldo no caldeirão da crônica. E teria um prato feito.
Enquanto não vou à Flip, sigo por aqui, acompanhando de longe, celebrando a crônica mais viva do que nunca, escrevendo o quanto posso e lendo o mundo pela janela do meu olhar.
Algumas mesas na Flip que vale ficar de olho:
“As ruas têm alma – João do Rio, o convidado do sereno” com Luiz Antonio Simas.
“A alma encantadora da crônica - Um passeio pelo gênero a partir de João do Rio”, com Gaía Passarelli, Beatriz Resende e Marcelo Moutinho.
“Da newsletter ao livro”, com Gaía Passarelli, Ana Rüsche e Taís Bravo.
“João do Rio: jornalismo, literatura e imortalidade” com Rosiska Darcy de Oliveira, Graziella Beting e Eliana Alves Cruz.
“Newsletter e o novo espaço para escrita online”, com Bárbara Bom Angelo, Camila Perlingeiro, Surina Mariana e Taís Bravo.
“Do livro às telas: Cem Anos de Solidão” com Natalia Santa, Maria Camila Bruges e mediação de Alejandro Chacoff.
Para caçar as transmissões online da Flip, fica de olho no canal oficial no Youtube!
Obrigada por me acompanhar nesta Trilha festiva e literária de hoje. Nos vemos na próxima edição. Quer fazer uma gracinha? Deixa seu alô e sua curtida!
Abraços literários,
Luisa Sá Lasserre