Por todo canto, escorre essa ideia de que a gente deve ir em busca do que quer. Não deixa de ser verdade, mas, você já parou pra pensar que buscar demais também atrapalha? Outro dia, em um dos diversos podcasts que eu ouço na academia, uma frase solta em meio ao papo me chamou a atenção.
Era algo sobre como estar sempre na busca pode distrair a percepção do que chega, e que a gente precisa silenciar para as coisas chegarem. Passei dias com essa ideia morando na minha cabeça e cutucando meu juízo. Pensei na importância da busca, pensei na ideia de propósito que virou tendência, lembrei-me da minha própria história.
Quando me tornei mãe, muita coisa, pra mim, mudou… e o lugar do trabalho na minha vida foi uma delas. Comecei pedindo demissão do jornal onde eu trabalhava há alguns anos porque não quiseram estender minha licença (mesmo não remunerada), e, naquele momento, eu não via como poderia ser mais importante noticiar a economia do país do que cuidar do meu filho de 4 meses que dependia totalmente de mim.
Voltei a trabalhar depois em jornal, revista, assessoria, mas de forma autônoma. Uns anos após o nascimento de minha segunda filha, ainda muito focada na maternidade, o lado profissional passou a me inquietar e eu, a buscar por um tal… propósito. A internet jogou holofote em cima dessa palavrinha que passou a ser tão desejável, e todo mundo queria um pra chamar de seu.
Fui estudar marketing digital, empreendedorismo criativo, pensava nas opções com as quais poderia trabalhar, sentia que precisava me reinventar. Mas fazer o quê? O que eu poderia criar, realizar, lançar? Onde estariam as minhas maiores habilidades - aquela tal junção entre o que você faz de melhor e o que querem de você?
Meus pensamento não parava, por dentro eu vivia uma busca. Até que um dia eu me dei conta de que encarava o tal propósito que eu tanto buscava como um problema que precisava ser resolvido. Enquanto eu o visse daquela forma, seria difícil encontrá-lo. E foi assim que eu virei a chave.
Lembro-me até hoje do dia em que eu voltava do trabalho, caminhando da estação do metrô até a casa dos meus pais onde os meus filhos estavam. De repente, foi como um véu que houvesse acabado de cair: eu vi a escrita que sempre havia feito parte da minha vida. Eu buscava tanto um propósito e não estava me dedicando à minha habilidade principal.
Foi por gostar de escrever que eu escolhi cursar jornalismo, trabalhar em jornal e até mesmo criar um blog. Só que eu havia me esquecido disso, de certa forma. Seguindo o lado mais burocrático da escrita profissional, eu acabei deixando de lado a minha escrita mais criativa. Foi a partir dali que eu decidi reavivar a escrita em mim. Passei a ler mais, a escrever criativamente, a cursar oficinas literárias. Pouco tempo depois, escrevi a primeira crônica que publiquei em um jornal.
De tanto buscar, havia deixado de ver o que estava tão perto, à minha frente, ao meu lado, dentro de mim. O tal propósito não estava lá em algum projeto mágico, cuja ideia mirabolante eu teria num insight, não estava fora nem do outro lado da rua. Sempre esteve aqui mesmo. Eu só não enxergava porque estava ocupada demais procurando.
É por isso que muita busca pode ser um problema. Não é que se deva ficar parada, esperando as coisas chegarem e caírem no colo, mas também não precisa ir com muita sede ao pote. O movimento nosso é importante, sim, mas deve ser natural… escolher, realizar, testar novos trajetos, se abrir para viver as oportunidades, mas com alguma moderação.
Peguemos outro exemplo… quer achar um novo amor? Não vá se trancar em casa, mas também não precisa sair atrás de alguém a cada esquina, em aplicativos de paquera, na balada todo fim de semana. Que tal investir primeiro em si mesma? Entrar naquele curso que já tinha vontade de fazer, sair pra caminhar, ler bons livros, marcar um café com as amigas, fazer uma viagem só sua.
Do mesmo jeito é com o trabalho. Quer encontrar um que faça seu coração bater mais forte? Começa revisitando seus talentos naturais, resgata suas habilidades deixadas de lado, volta a estudar algum tema do seu interesse. Para, silencia, medita, respira. E, enquanto isso, segue fazendo, testando, tentando. Sem pressa.
Isso tem tudo a ver com um diálogo do livro Bem-vindos à livraria Hyunam-Dong, que me trouxe justamente reflexões sobre propósito e trabalho:
Ainda frustrado, Mincheol deixou escapar as primeiras palavras que lhe vieram à cabeça:
— Então quer dizer que eu tenho que parar de pensar e começar a fazer qualquer coisa?
— Isso não seria ruim — respondeu Seungwoo. — Só tente alguma coisa, talvez assim você descubra do que gosta e se quer fazer isso pelo resto da vida. Não dá para saber antes de tentar. Então, em vez de ficar quebrando a cabeça pensando no que deve fazer no futuro, tente se esforçar para fazer algo agora. O importante é se dedicar ao que você estiver fazendo, mesmo que pareça algo pequeno. Todo o seu esforço valerá a pena.
Quando li isso, fez muito sentido pra mim. Eu perco muito tempo pensando no futuro e preciso me lembrar, de vez em quando, do que está aqui no presente. No fim das contas, a gente não precisa ir muito longe pra buscar o que a gente quer encontrar. O que é nosso, geralmente, já está por perto. E quando chega, não faz alarde… basta um pouco de silêncio pra reparar.
Obrigada por me acompanhar nesta Trilha de hoje!
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Nos vemos em breve, na próxima Trilha da Palavra.
abraços literários,
Luisa Sá Lasserre
Adorei, Luisa! Sabe que algo bem parecido aconteceu comigo... estava frustrada com a publicidade, procurei um novo caminho em tudo o que foi canto, e descobri que a comunicacao sempre foi a minha habilidade, so estava comunicando as coisas erradas (sorry pelo teclado sem acentos! rs). E achei muito interessante isso de pausar para escutar. Sempre necessario! Ate quando nao estamos procurando nada e, ainda assim, podemos achar algo.